sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A orelha do Canibal


Em seu segundo romance, Alexandre Fraga tece uma trama tão surpreendente quanto seus personagens. O autor constrói, desconstrói e reconstrói a ação em um ritmo que funde a linguagem literária com a cinematográfica: o texto e as imagens se amalgamam, provocando sensações que vão da compaixão aos sentimentos mais intensos de repulsa e inclemência.
Preste atenção aos personagens. Mesmo os que aparecem rapidamente – como o brutal e fogoso policial Nestor, o boa-praça major Bógus, o anônimo ascensorista, o coveiro dos dentes de ouro, a dedicada enfermeira lésbica Rebeca –, todos têm tamanha humanidade que parecem a ponto de se desgarrar da trama para viver suas próprias vidas. O autor tem a habilidade rara de nos trazer personagens que podemos, com medo, encontrar nas esquinas. E que no fundo gostaríamos que ficassem mesmo no livro.
Assim, bem-vindo ao fantástico mundo do infame capitão Duno, do assombrado tenente Leopoldo, da dura vovó Carmela, do enlouquecido papa-defunto Valdir, da temperamental adolescente Cecília, da melancólica milionária Biju, do apaixonado assaltante Javier, sempre agarrado a uma santa, da mãe-de-santo Dalva, encurralada por seus pecados, do promissor Doutor Jonas, do leal bandido empreendedor Juca Caixão, do presidiário crente e traficante Pato Rouco.
Bem-vindo a um livro inesquecível. Devore-o.